Instituto Pensar - Empreendedora rural cria sistema produtivo com a fruta bacuri

Empreendedora rural cria sistema produtivo com a fruta bacuri

A Fazenda Bacuri, da engenheira florestal Hortência Osaqui, tem uma agroindústria que produz derivados do fruto, que é rico em potássio, fósforo e cálcio. Foto: Louisa Lösing/CC.

A Fazenda Bacuri, de Hortência, produz o fruto amazônico de mesmo nome e seus derivados, empregando pelo menos 15 famílias no período da safra. Sua produção comercializa orgânicos, valoriza a biodiversidade local e impulsiona o turismo sustentável da região.

Na reportagem produzida pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Hortência conta sua trajetória como mulher rural e as conquistas que já obteve, apesar dos preconceitos.

Empreender com produtos da biodiversidade da floresta amazônica foi o desafio escolhido por Hortência Osaqui, 53 anos. Filha de pai japonês com mãe paraense, Hortência viveu grande parte de sua vida na zona rural, nos arredores de Augusto Corrêa, município situado no nordeste do Pará, na área da Amazônia Atlântica.

A cidade tem cerca de 45 mil habitantes e sobrevive basicamente da agricultura de subsistência, principalmente do plantio de mandioca e da pesca artesanal. A região tem um dos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixos do país.

Como não havia universidade no município, Hortência foi para Belém, capital do estado, para estudar. Formada em engenharia florestal, ela decidiu voltar para o campo e assumir a fazenda da família depois que o pai morreu. Hortência percebeu o potencial da propriedade e desenvolveu um novo arranjo econômico aliado à preservação da biodiversidade.

Engenheira florestal e empreendedora do campo


Hortência Osaqui (53), através de sua fazenda localizada no município de Augusto Corrêa, ela promove a bioeconomia no nordeste do Pará. Foto: FAO.

A fazenda que Hortência herdou leva o nome de um fruto tradicional da região amazônica: bacuri. De casca dura e polpa saborosa, o bacuri se revelou como uma rentável surpresa na região.

Antes, suas árvores eram aproveitadas na fazenda apenas para extração de madeira, reconhecida como nobre e resistente, mas Hortência decidiu verticalizar a produção e investir nos frutos e derivados.

A Fazenda Bacuri, hoje, tem uma agroindústria que produz derivados do fruto, que é rico em potássio, fósforo e cálcio e pode ser utilizado na produção de doces, geleias, licores, sorvetes, sucos, entre outros produtos. Da semente do fruto também é possível extrair um óleo usado pela indústria de cosméticos e pela medicina popular como anti-inflamatório e cicatrizante.

Crescendo através dos orgânicos

A produção é toda agroecológica e tem certificação orgânica nacional e internacional. "Ninguém acreditava no Bacuri, diziam que eu era louca, que não iria conseguir. Eu tinha que fazer dinheiro da propriedade. Aí que eu fui buscar mercado para vender os frutos”, conta Hortência.

Além do ceticismo, Hortência enfrentou o preconceito por ser mulher. "É um trabalho árduo para a mulher, porque é um mercado machista. A gente tem que fazer diferente. Eu tive uma grande resiliência”, contou.

Mas ela celebra as graduais conquistas das mulheres nos espaços de decisão no campo. "Graças a Deus a gente começou a trabalhar a questão do mercado, buscar espaço”, apontou.

Muito mais do que uma agroindústria

Hortência diz que ver o impacto positivo na comunidade por meio da venda dos produtos de bacuri não tem preço. A fazenda emprega pelo menos 15 famílias no período da safra e vende para diferentes regiões do país.

"É muito mais do que uma agroindústria. É a oportunidade de fazer economia com a floresta em pé”, contou.

Segundo Hortência, ninguém acreditava que poderia ter uma agroindústria em um município de condições tão precárias como é Augusto Corrêa. "Antes, ninguém conhecia Augusto Corrêa, mas a gente consegue entender hoje que não precisa ser grande para gerar emprego e renda”, completou.

Prêmios por promover a bioeconomia

Como se situa na área turística da Amazônia Atlântica, a propriedade também abriu espaço para atividades de turismo rural. A iniciativa tem impulsionado o movimento de turistas, estudantes e pesquisadores que buscam a oportunidade de visitar a floresta de bacurizais e conhecer o processo de manejo das árvores.

Uma das visitas rendeu a avaliação positiva de pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP). Emocionada, Hortência conta que outra conquista foi ter sido selecionada este ano como finalista do Prêmio Novo Agro Santander na área de empreendedorismo.

"Isso já é um prêmio. Para mim, é muito forte, porque eu estou no caminho certo. É através da floresta, da bioeconomia que a gente pode desenvolver o município”, declarou Hortência.

Campanha 2019 #Mulheres Rurais, Mulheres com Direitos

De 1º a 15 de outubro, a Campanha #Mulheres Rurais, Mulheres com Direitos promove 15 dias de mobilização para valorizar a contribuição das trabalhadoras do campo ao cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) relacionados à igualdade de gênero e ao fim da pobreza rural.

O tema norteador da quinzena ativista é "O futuro é junto com as mulheres rurais”, divulgado nas redes sociais através da hashtag #JuntoComAsMulheresRurais.

O principal objetivo da campanha é destacar o trabalho promovido por pescadoras, agricultoras, extrativistas, indígenas e afrodescendentes.

A campanha no Brasil é coordenada pela Secretaria de Agricultura Familiar e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO); ONU Mulheres; Reunião Especializada sobre Agricultura Familiar do Mercosul (REAF); e a Direção-Geral do Desenvolvimento Rural do Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai.





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